Transcrição do Episódio #18: Todo aquel fulgor

 

Estudios Phonalex. Rua Dragones 2250, Bajo Belgrano, Buenos Aires. Essa parte baixa do bairro de Belgrano fica entre o aeroporto para vôos domésticos, o aeroparque Jorge Newbery, e o maior campus universitário da cidade, a UBA, bem encostado ao Rio de La Plata que banha a cidade. Os estúdios Phonalex foram a casa de vários nomes importantes da música regional argentina, como Atahualpa Yupanqui, e do início do rock. Lá gravaram La Pesada del Rock & Roll, Sui Generis, Pappo’s Blues e também bandas del Flaco, Almendra e Pescado Rabioso. E no final de 1972 El Flaco está novamente nos estúdios Phonalex para gravar o terceiro álbum de Pescado Rabioso.

 

Luis Alberto Spinetta, El Flaco, fundou Pescado Rabioso assim que saiu de Almendra, uma banda mais para um rock hippie light e bucólico, um rock mais próximo de um Dylan, o primeiro herói do Spinetta. 

Logo de almendra, um jovem de verstido roxo com uma lágrima caindo e uma flecha de borracha na cabeça, representando a idiotice humana

Quem inadvertidamente descreve esta passagem de Almendra para Pescado Rabioso a partir das composições que inspirou é Cristina Bustamante, a primeira musa de Spinetta.

 

Cristina era a filha do segurança do prédio onde morava Emilio del Guercio, outro dos membros de Almendra. Passou a frequentar os ensaios da banda, a participar do redemoinho criativo de desenhos, leituras, conversas e muita música. Luis e ela se apaixonaram nessa época. A primeira composição dedicada a ela é um hino ao mais pleno amor adolescente que virou um hit quase instantâneo: “Muchacha ojos de papel”.

 

fotografia de Luis Alberto Spinetta quando jovem

Muchacha’ é uma das grandes construções poéticas do Luís, só sua voz e o violão. Suas letras acariciam ideias entre a visão idílica da menina entre a adolescência e o tempo de colégio, descobrindo sua liberdade, através de uma linha poética tão pura que parece uma canção de ninar.

Os membros de Almendra disseram que ele levou a letra já pronta e só fizeram arranjos e coros.

Muchacha’ foi um sucesso imediato e levou Almendra para a fama precocemente, algo que nem o Luis esperava.

Almendra irá fazer as primeiras ‘aventuras do rock’, encontros com a poesia beatnik, com o rock e blues americano, e sua latinização. Spinetta já tinha uma ‘queda’ por acordes diferentes dos clássicos do rock, e também ‘latiniza’ o rock de fora cantando em castelhano, uma novidade para a época, como faziam alguns outros, como ‘Manal’. O ‘baby’ nestes anos é traduzido como ‘Nena’ e por isso muitas músicas tem esse adjetivo nas letras.

Só que El Flaco foi se distanciando dessa sonoridade da banda e se aproximando do blues-rock e de solos mais longos, mais próximo do psicodélico, e termina por deixar Almendra.

Lá pelos 70 ele virou a chave para um rock mais para o blues provavelmente pela influência de um hard rock argentino da primeira hora, Pappo, do Pappo’s Blues. No início do Pescado eles se apresentavam juntos com o Pappo’s Blues, os dois tem muitos blues e riffs mais rockeiros. Enquanto Pastoral, Manal, o próprio Almendra estavam para o folk, Charly García estava para o progressivo mais sinfônico do outro lado, e Pappo num terceiro lado num blues mais cru, Spinetta decidiu explorar esse blues, mas com uma maior profundidade sonora.

É assim que começa Pescado Rabioso, com Amaya na batera e Osvaldo Frascino no baixo, que depois será substituído por David Lebón no baixo e esse power trio se junta depois Carlos Cutaia, que era convidado nos shows para completar com os teclados.

Pescado Rabioso se torna também um local para experimentar todas as ideias possíveis: um blues rasgado, um riff avassalador, um progressivo mais reflexivo, algo mais psicodélico, às vezes tudo isso na mesma canção. Há um fervilhar de ideias novas em todos na banda onde um puxa a criatividade do outro, e essa combinação ora é puxada pela poesia spinetteana, ora pela linha de baixo de Lebón, ora pelos teclados moog de Cutaia, …

Pescado Rabioso foi o grito musical de raiva no meio da loucura da realidade, atual até hoje, já que recentemente Eminem usou ‘Ámame Peteribí’ como base para o seu rap ‘Stepdad’ (eu acho que ele estragou um pouquinho colocando a letra dizendo que odeia o padrasto, mas enfim…).

Também tem belos momentos de puro encantamento, como no Rock da Selva Mãe (Rock de la Selva Madre) um hino hippie que tem todos os componentes do progressivo na sua mais alta expressão.

Seguindo a linha de músicas inspiradas pela primeira grande musa de Spinetta, a segunda música influenciada por Cristina Bustamante abre o primeiro álbum Desatormentándonos, que já tem um Spinetta completamente diferente.

Blues de Cris’, um blues forte com El Flaco confessando que está ‘cansado de falar com Cris’ e sua mente está, como diríamos hoje, com um duplex da Cris na cabeça. Da mesma forma que confessa que ‘seus olhos esquecerei’ diz que tem que respeitar o seu silêncio. Já confessa o fim da relação com um rock pesado mas com um lirismo único.

Atado ao meu destino, no limiar do meu caminho voltarei’. Assim como reconhece que não faz mais parte de sua vida, irá influenciá-lo ainda.

Essa época de Pescado Rabioso eles tem a ousadia de simplesmente anunciar o lugar onde irão tocar, e o lugar lota. Era a comunicação boca a boca do início do rock que sem redes sociais nem internet conseguia levar milhares de adolescentes aos eventos onde quiser que eles tocassem.

As composições de Pescado Rabioso tem arpegios complexos, terças e quintas em acordes inesperados, riffs contundentes e uma sincronia melódica única para aquela época. As letras tem influências do Spinetta da poesia dos franceses como Rimbaud e Baudelaire, assim como influência dos beatnik a Carlos Castaneda. Pescado Rabioso é um trem cuja caldeira arde de rock, seu trilho é o blues e o maquinista nos leva a países da poesia. Provavelmente havia uma pesada experimentação psicotrópica, mas também um trabalho musical exaustivo para criar músicas que são clássicos até hoje.

 

Um grande exemplo desta veia de Pescado Rabioso é a última música desse álbum, ‘Serpiente (Viaja por la sal)’. Nesta época as letras de Spinetta passeiam pelo surrealismo, misturando impressões do dia com visões do mundo tirados de uma imaginação quase cinematográfica. É um rock com um pé no progressivo, mais heavy com uma potência sonora que nenhuma outra banda tinha.

 

É claro que os tempos na Argentina eram terríveis, a volta de Perón do exilio e sua subida ao poder com a sua nova esposa Isabelita foi midiática mas em termos práticos, efêmera. Pouco depois de um ano depois da posse, Perón irá morrer deixando um governo fraco que deixava para trás os sonhos da justiça social. Ele mesmo tinha enterrado esse sonho no retorno ao seu país, quando deixou a ala direita do partido abrir fogo contra membros da esquerda no que seria a sua festa de volta do exílio. Nos meses seguintes, depois da carta branca de Perón para a ultra direita, enquanto as facções disputavam o poder dentro do mesmo partido, a direita fica cada vez mais violenta e passa a realizar o seu plano de eliminação de inimigos. Ante a violência da ultra direita do partido peronista que passou a eliminar membros da esquerda, que respondiam com sequestros e atentados, em 24 de março de 1976 os militares irão destituir o governo peronista e protagonizar um dos governos mais brutais da história moderna do continente.

A banda nesta época está num momento de intensa criatividade e é por isso que o segundo álbum é duplo, o que provoca inclusive problemas com a gravadora, que queria mais um terceiro álbum, mesmo que este ‘valia por dois’, tanto pela quantidade como pela qualidade sonora.

E como demonstração da importância da relação do Spinetta com Cristina, no segundo álbum há outro rock/blues dedicado ao fim da relação : ‘Como el viento voy a ver’, um rock que começa acelerado para depois parar e passar a um blues lento e melancólico. Porém mais complexo e com uma cadência que o rock argentino desconhecia. E era isto que Almendra nunca lhe iria dar e que é o ápice de Pescado, essa revolta de um rock blusero mas onde é possível improvisar, encontrar novos acordes, novas possibilidades dentro de um rock rasgado e sentido. A letra é bastante clara em confessar que cada um deles, Luis e Cristina, abandonaram a relação (você não me deixou, eu também não te deixei).

Mas os outros integrantes estavam frustrados de viverem numa época prolífica, criativa, mas terem pouca influência nas ideias da banda.

 

Para o terceiro álbum, Cutaia e Lebón queriam colocar suas ideias em pauta, mas Spinetta já tinha muitas composições em mente e não pensava abrir mão delas. Foi assim que El Flaco chegou nos estúdios Phonalex, no Bajo Belgrano, para gravar o terceiro álbum da banda Pescado Rabioso.

 

As discussões entre eles se tornaram silêncios, que depois viraram ausências. Primeiro um, depois outro, cada um deles foi abandonando o projeto. E Spinetta ficou só.

 

El Flaco ia ficar sozinho esperando em Dragones 2250. Mais ninguém ia aparecer, e as gravações foram canceladas.

 

Talvez dominado pela raiva de ter sido abandonado, ou talvez porque tinha um propósito muito firme, decidiu que seguiria com seu plano de um próximo álbum. E eram os outros integrantes que tinham abandonado o projeto e por isso seria o último álbum de ‘Pescado Rabioso’. Ele era ‘Pescado Rabioso’ agora e faria o que achava melhor. E sua ideia era um álbum que aos poucos tomou forma com a ajuda do seu irmão Carlos Gustavo* e um ou outro colaborador, sendo o resto inteiramente composto e interpretado por El Flaco. Era um álbum que passou a chamar ‘Artaud’.

Antonin Artaud influenciou as artes na França no início do século XX. Sua conexão com o dadaísmo e com o surrealismo, aliado a mal estares físicos reais nunca bem diagnosticados (talvez associados a uma meningite que sofreu de jovem), o fizeram ter o estigma de ‘louco’, que o forçou a padecer uma longa caminhada  por manicômios durante boa parte de sua vida. Houve diversas tentativas de tratamento. Artaud foi, como outros casos precoces do início de século, uma vítima do sistema manicomial, sistema este que não sabia bem o que fazer para protegê-lo de suas crises e o utilizou como cobaia para os tratamentos mais macabros, desde eletrochoques a tratamento com láudano, que o levou a uma adicção a opiáceos.

 

Artaud foi escritor, dramaturgo, poeta, mas sempre se considerou primeiramente ator. Um ator do maldito que tentava captar os sentimentos mais primitivos. Escreveu o manifesto ‘teatro da crueldade’ expondo sua ideia ser necessário entregar o público aos seus maiores conflitos da forma mais visceral possível. Seus escritos tinham uma poesia incomum que valorizava o ritmo das palavras e um certo non-sense que herdou dos dadaístas, mas também escreveu muitas cartas e manifestos expondo a falência do sistema manicomial e da própria vida moderna que se esconde atrás de uma pretensa sanidade. A loucura e a razão são temas que aparecem nos seus escritos, sua única e mais clara forma de protestar para médicos que o usavam de cobaia sustentados numa razão bem questionável.

 

Spinetta leu Artaud desde muito cedo. Seu sentimento sobre a miséria humana, seus questionamentos sobre a arte, a loucura e a suposta razão dos homens o surpreendia e inspirava. 

Retrato de Antonin Artaud numa de suas repsetntações, de boina e cachecol

O inspirava sim, mas principalmente empurrando-o a responder que a poesia e o amor tinham que vencer, mas que sim havia dissabores. Era necessária uma resposta para Artaud. Ele estava com várias delas em forma de música, e essa música era somente o pano de fundo para uma profunda poesia.

 

Então quando Spinetta ficou só, conseguiu ter tempo para se afastar de suas influências musicais como Deep Purple, Led Zeppelin, Pink Floyd e das letras como Rimbaud ou dos sinfônicos como Genesis. Spinetta queria soar como Spinetta do começo ao fim, não se parecer a mais ninguém do que ele próprio.

 

Essa viagem toma como inspiração alguns dos ensaios de Artaud, mas é somente um ponto de partida a partir do qual Spinetta começa suas reflexões.

 

O álbum começa com uma balada que nasceu a partir, ora quem diria, de uma conversa com Cristina Bustamante, agora como amigos que confidenciam seus problemas terrenos. Cristina tinha acabado um relacionamento e estava grávida. A partir das conversas entre eles, onde Luis se viu apoiando que não abortasse porém sabendo que criar um novo ser vivo requer responsabilidade e em definitiva é um ser que deve ser criado com cuidado mas para que seja livre, nasce um dos seus maiores hinos: “Todas as folhas são do vento” (Todas las hojas son del viento).

Spinetta depois também comentou que ficava preocupado vendo pessoas do seu meio que precisavam mudar sua postura ao terem filhos e sair da balada eterna das noitadas -por isso ‘cuida ele das drogas, nunca o reprimas’, ou seja tomar conta mas criar uma pessoa com a liberdade que ela merece.

Porém as folhas são do vento, todos afinal avançamos de forma inexorável para a morte. Essa poesia crua e direta evoca as feridas que Artaud tocava sem medo.

Essa menção à morte segue para mais um (quem diria) blues rasgado ‘cemitério clube’.

Há várias interpretações possíveis: sobre a morte de um relacionamento e o rancor que fica (‘que calor fará sem você no verão, ou seja, como você é fria!’, ou ‘assim que pensei em você, caí morto’), mas também pode significar a desolação de um governo perverso que deixa como legado uma legião que cultua cemitérios, onde Spinetta canta como uma alma penada ‘Quem deu ao pequeno deus o cetro cinza do abismo ?’.

Musicalmente Spinetta aquí parece se apoiar da suposta simplicidade do blues para criar uma harmonia inusual e um clima único que nos fazem até duvidar dessa simplicidade.

A próxima música é uma poesia concreta jogada na cara, do nada, e cantada somente com o violão. As palavras se concatenam de forma quase surrealista, pintando ideias num filme que só acontece na nossa mente através dos conceitos que as palavras significam ou que trazem à tona somente pela sua sonoridade.

Já no meio do álbum a diversidade de assuntos se concatena à diversidade de tipos de poesia e ritmos diferentes, sabemos que vamos numa viagem a suas próprias entranhas. Há poucos instrumentos, para que a poesia tome lugar de um instrumento e para que cada acorde tenha um lugar, de uma forma quase minimalista.

Porém não somos meros espectadores. Em certos momentos a melodia vai nos falar mais da letra do que a letra, onde há somente uma palavra.

Superstições nos amarram, o medo nos paralisa (‘sempre tremer, nunca crescer, isso é o que mata o teu amor’).

O título da música (supercherías, ou seja fraudes) nos dá uma dica: a superstição nos dá falsas verdades como bijuterias baratas.

Já estando no meio das entranhas del Flaco teremos que enfrentar as verdadeiras perguntas a considerar.

Do que temos sede ? O que somos diante da imensidão ? Spinetta canta acompanhado de violão sobre a sede verdadeira, quebrando a parede e falando diretamente ao ouvinte sobre as ansiedades do artista e o que o público espera dele como artista e como indivíduo.

Através de mim não irás achar a paz,

se não é em ti mesmo, nunca irás encontrá-la

Pintura 'Ponte de Langois com alvadeiras' de Vincent Van Gogh

Em ‘Cantata de pontes amarelas’ (Cantata de puentes amarillos) estamos no ponto central da resposta spinetteana a Artaud.

 

A inspiração foi o ensaio ‘Van Gogh, suicidado pela sociedade’ que Artaud escreve no final de sua vida, mostrando Van Gogh como uma alma pura caminhando num mundo pútrido e sombrio. Responde de forma ácida sobre a suposta ‘normalidade’ argumentando com base no sadismo dos médicos psiquiátricos das instituições por onde passou. No ensaio há trechos que expõem o sofrimento que os supostos tratamentos lhe causaram, o que põe em questionamento tanto o tratamento quanto o sistema que o justifica:

 

Agora estamos no cerne do meio do centro da alma spinetteana. Já nos confessou sua humanidade e que não tem a intenção de ser idolatrado. Spinetta agora quer nos mostrar que até Artaud tem conserto, que seu pessimismo é real mas pode ser curado, mas que a participação do ouvinte para manter esse fogo é vital para que a troca com o artista continue.

Antonin Artaud na velhice

Spinetta nos convida a andar com ele através da pintura de Van Gogh, aquele que Artaud chamou de ‘suicidado pela sociedade’. Artaud carregava a dor de ter sido um gênio não só incompreendido como desprezado como louco, e assim como Van Gogh, afastado da sociedade normal, forçado a ser eletrocutado para manter a calma -seu cérebro precisava ser fritado em nome da racionalidade. Spinetta reflete sobre a jornada do artista que traz as reflexões da sua experiência e a entrega ao seu público, e que isso não pode ser cerceado. A sociedade precisa entender essa jornada e não cercear, encaixotar.

 

As pontes amarelas devem nos libertar da visão errônea do ser e através das possibilidades dessas paisagens nos fazer ver o mundo de uma forma diferente, e é essa a missão do artista. A música combina momentos de imagens surrealistas que nos atingem como raios de luz, seguidos de momentos de reflexão. É uma pequena peça de rock progressivo construída com violão, algumas guitarras, poucos acompanhamentos, e sua voz.

 

Cada estrofe é uma seção diferente: primeiro convida a acompanhá-lo na viagem (‘tudo pode andar’), apresenta o problema dos dirigentes de homens que não tem compaixão (‘sujem suas mãos como sempre’). Depois aborda o conflito entre aprender com as experiências da vida mas sem se perder no caminho (‘é hora de voltar , mas trazendo para casa todo aquele brilho’, ou ‘todas aquelas bonecas estão sangrando de tanto chorar‘), do conflito de viver em comunidade mas respeitando a individualidade (“olha o pássaro, morre na sua jaula”), e no fim termina na volta dessa jornada, de manhã.

Os poucos instrumentos deixam a poesia brilhar como a verdadeira protagonista.

Existem milhares de interpretações e a minha é somente mais uma dentro da quantidade imensa de referências através do surrealismo e os poucos mas certeiros golpes de violão. 

 

Spinetta sem dó nos leva a outro ponto da sua montanha russa num rock que virou um clássico: Bajan, a descrição dos conselhos para que o ocaso não vire um pesadelo.

O dia deita para morrer, a lua vira névoa sem fim, mas tomara que os seus olhos ainda me amem. A poesia é de uma simplicidade direta que nos atravessa mas de uma forma boa, não como uma espada que nos quer tirar a vida e sim como uma revelação na forma de um rock como só Spinetta podia fazer.

O final de Artaud é primeiro a revelação dessa mesma idiotice da humanidade que se acha  racional e sábio mas que irá perder sua vida olhando o vazio, ‘queimando enquanto olha o sol, e esta é a estória de quem espera para acordar, … vamos embora!’.

 

Já fugindo e no final da viagem El Flaco nos relembra que nossa liberdade precisa ser conquistada. E não, ela não vale mais do que a vida, liberdade é o caminho de respeitar os outros, cuidar dos pequenos, amar até a medula, nunca reprimir, ter responsabilidade consigo e com os outros, e principalmente que o que disserem de você, é falso.

 

Artaud’ tem tudo: é rock, blues, rock progressivo, reflexão, muita poesia, um disco redondo. Um importante detalhe é que o encarte foi construído de forma a não encaixar em nenhuma prateleira, é uma pintura desenhada num octógono, que também lembra uma página aberta, um fundo verde com um brilho amarelo como uma luz surgindo dele. Anos depois foi adaptada ao quadrado do CD, mas ‘Artaud’, além de figurar como melhor disco de rock latino, foi uma proeza jamais repetida, e jamais irá encaixar em nenhuma prateleira.

 

 

*Alteração posterior corrigindo o nome do irmão de Spinetta (fonte: https://es.wikipedia.org/wiki/Gustavo_Spinetta), foi o meu amigo Nicko que me avisou deste erro.

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Por Outro Lado

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